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Clássicos dos anos oitenta - Orquestra Sinfónica Juvenil


Perante as significativas mudanças culturais do início da década de 1980, a Orquestra Sinfónica Juvenil acompanhou a nova identidade massificada e democratizada do que seria ser jovem. Poderia esta afirmação ser uma redundância, não fosse a democratização um problema profundo da música clássica. Procurar a juventude, fazer parte dela e, sobretudo, corresponder aos contornos idiossincráticos da sua contemporaneidade, tornou-se um desafio ao carregar o peso da ideia de clássico. A identidade emergente da juventude que se formava através do que era oferecido directamente aos jovens - uma novidade na sociedade lisboeta da época - estava carregada de informação simbólica que a apartava deliberadamente de qualquer conservadorismo que podia estar associado à música clássica. Onde poderíamos então incluir estes jovens instrumentistas que, tocando repertório clássico, continuavam a fazer parte do seu tempo e da sua modernidade?

Desde 1976, a Orquestra Sinfónica Juvenil era dirigida por uma comissão formada pelos seus próprios instrumentistas que se viram envolvidos nesta querela marcada pelo tempo. Enquanto lutava para se estabelecer nos costumes musicais da sociedade lisboeta, procurou ser relacionável através da sua própria identidade, o que deitaria por terra a imagem romantizada do músico e do ideal que dele se espera, caracterizado pelas velhas estruturas de distinção que persistem ainda nos dias de hoje. Ser “juvenil”, apresentar-se de e para a juventude, seria sempre um risco para esta orquestra independente, sendo esse um símbolo que a afastaria da distinção, por si só. Na sua linguagem comunicativa, em representatividade dos seus elementos e para a constituição do seu público, a Orquestra Sinfónica Juvenil procurou manter uma ligação entre a vida quotidiana e o repertório que tocava a orquestra. Um grande exemplo disto serão os cartazes que publicitam os concertos da Orquestra Sinfónica Juvenil que, através da sua iconografia, exibem símbolos de contemporaneidade – pranchas de surf, auriculares, ténis, consolas, entre outros – acompanhando uma linguagem coloquial que apela à proximidade com o espectador. Admitindo a sua juventude, a OSJ procurava dar humanidade aos instrumentistas de orquestra, aproximando-os do seu público. Como resultado, é quebrada a hierarquia simbólica que afastava o habitus da música clássica a grupos sociais que a consideravam inatingível – inclusivamente os jovens. Essa barreira da intangibilidade era formada por ideias, e só poderia ser derrocada através de símbolos terrenos que se afastam dessa idealização. Ao mesmo tempo que o carácter juvenil torna possível esta guerra simbólica, impede igualmente que o impacto seja mais profundo no panorama musical português.

Contudo, estas pertinentes problemáticas que a Orquestra Sinfónica Juvenil abriu portas nos anos 1980, foram inevitavelmente sustentadas por figuras canónicas – como Beethoven na imagem acima - tanto a nível de repertório como na iconografia utilizada. Esta tradição continua a ser o fio condutor com a qual se estabelece esta complexa relação entre o tempo e a intemporalidade inerente ao conceito de clássico. Mas que amarras tem o tempo? Ainda queremos construir essa intemporalidade? São os novos desafios da história da fragilidade da música ocidental.


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