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Mashups do séc. XXI: poses de Jack, entre o metal e a terra dos feiticeiros



No assalto ao capitólio que, se fosse ficção seria uma produção merecedora de uma estatueta peluda para pior blockbuster do ano em qualquer festival que se prezasse, houve algo que atingiu particularmente a minha atenção.


Os assaltantes não só tinham uma noção clara do potencial mediático do seu próprio desempenho mas, mais do que isso, pousavam para fotografias sempre que tal se proporcionava. Cruzamo-nos na imprensa e redes sociais, com as poses dos assaltantes em diversos locais do edifício, com particular destaque para a criatura tatuada, pele de raposa e chifres.


Ora, se o reality show The Apprentice conduziu Trump à presidência dos EUA, onde pretende chegar Jack Angeli, auto-designado xamã do movimento QAnon, ator nas horas vagas e, a tempo inteiro, adepto do quase-deposto-presidente? Jack aparece em quase todas as imagens da intrusão no capitólio, tendo obtido uma atenção sem precedentes, não só por ser um dos protagonistas do assalto mas também porque escolheu bem o guarda roupa e caracterização... Pelo que consegui perceber, QAnon é um movimento que acredita que Trump trava uma luta contra os adoradores de satã e outras criaturas suspeitas, que se espalham clandestinamente pelos mercados, media e governos. E Jack, pelo que percebi em entrevistas que lhe foram feitas há algum tempo atrás, alega que se veste daquele modo para afastar as/os bruxas/os e feiticeiros/as que andam ‘por aí’. Parece que também faz cerimónias, toca e dança, sempre com o mesmo intuito. Já foi muitas vezes fotografado, talvez mais do que os homens-estátua das ramblas de Barcelona. Acredito que deve haver muitas selfies com o ator e, embora não tenha tido oportunidade de explorar esta via, constatei que existia pelo menos uma com Rudy Giuliani, de novembro passado, no Arizona.


Numa era de intensa criatividade, em que tudo se combina, se articula e produz sentido, veja-se o modo como Davide Marrari, guitarrista metal, se apropriou de um excerto audiovisual de uma das exibições do homem dos chifres para conseguir, desde ontem, quase 3500 visualizações no youtube. Jack é um ator que percebeu como se adquirem visualizações ou notoriedade, basta-lhe vestir umas calças de pijama, lançar uns urros, pôr um adereço na cabeça, exibir umas tatuagens e dizer que a terra é plana. Ter participado no assalto do século, e sido fotografado em todos os seus espaços mais reconhecidos, levá-lo-á seguramente à fama mundial. Pelo menos a Lisboa já chegou. Aguardamos o desenrolar da história, que está longe de estar terminada.


Veja-se o resultado:


Paula Gomes-Ribeiro



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