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- O rapto do espectador

O António manobra a câmara que se torna uma extensão da sua performance, oferecendo-lhe a oportunidade de gerir o que aparece na sua pequena janela. No entanto, a discrição nunca é total, e o espectador procura ansiosamente penetrar a intimidade do músico, observando com detalhe o local em busca da evidência da vida pessoal de quem se apresenta. Existe um certo caracter fetichista em procurar estas características em primeira mão e, talvez, ser o mais atento, ao mesmo tempo que existe uma democratização entre o músico e os seus espectadores, pois este primeiro permitiu esta invasão da sua privacidade. O público rejeita a “bela aparência” e procura o erro, o inesperado, o animal de estimação que interrompe exasperadamente a actuação, pois ele ambiciona a humanidade do artista que faz com que este espectáculo live seja o mais espontâneo possível, algo que não acontece com um concerto de presença em corpo, e muito menos uma performance previamente gravada. Procura pequenas irregularidades que só aconteceriam ao partilhar de facto o espaço doméstico daquele músico, ser seu amigo, usufruir da sua sala de estar, conhecer a sua família e afagar o seu companheiro de estimação. Não obstante, existe sempre algo que tenta “imitar” o concerto de forma mais tradicional, porque mesmo quando frequentamos uma sala de estar de um músico amigo que queira tocar para nós, ele recria esse espaço para se afastar da sua audiência, colocando-se num plano socialmente afastado para que se possa distinguir a performance musical da conversa coloquial. Cumpre-se o rapto e 70 mil espectadores remediados cabem no sofá do António Zambujo.


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